sexta-feira, 13 de julho de 2012

Torcedores - por Anderson Ferreira

Quarta-feira, 4 de julho. Ele acende a vela e apaga com um sopro o palito de fósforo que queimava como a esperança dentro de seu coração. Envolto com a bandeira do seu time, superstição em dias de jogos especiais, ora a São Jorge de uma forma como nunca fizera.


Pede proteção, pede gols, pede que seja vencedor do campeonato que parece não ter sido feito ao seu time. Assiste ao jogo em casa, na sala apertada, perto da TV de LCD que ainda deve oito prestações. Quase infarta no primeiro gol. Não pode gritar porque a mulher dorme no outro sofá e sempre fica brava ao ser acordada. Chora no segundo gol daquele moço careca, que parece ter nascido pra vestir a camisa que mais ama.


Quando termina o jogo, levanta-se, toma um pouco de água, abre a janela da sala e fica a ouvir os fogos que durariam a noite toda. Sente no rosto o vento daquele dia de inverno que jamais sairá de sua lembrança e que, muitas vezes, achou que nunca fosse chegar. A quatro casas dali, um outro sujeito apagava uma vela, bravo com seu santo de devoção por não ter atendido o pedido de infelicidade alheia. Deitado em sua cama, aqueles rojões pareciam punhaladas em seu coração. Tal como o vizinho, não dormiu naquela noite.


Quarta-feira, 11 de julho. Muitas velas queimam no altar improvisado de um dos quartos da casa. Flâmulas do time alviverde se misturam às imagens dos inúmeros santos. Agoniado, com o peito apertado, ele toma o remédio da pressão e afaga o gato que roça sua perna. O gesto é mecânico, pois ele só pensa no jogo que acabava de começar.


Grita palavrões aos montes em italiano. A mulher e a filha, já acostumadas ao seu jeito nessas ocasiões, ora se divertem, ora se preocupam. Gol do adversário. O cigarro, vício vencido há cinco anos, volta a fazer parte de sua vida. Um, dois e outros tantos. No cinzeiro, a prova de tamanho nervosismo. Gol de empate. O berro, que há muito não soltava, estava próximo, cada vez mais perto, quase dava para apalpá-lo. Ainda restava tempo para falar mal do árbitro, bandeirinha, narrador e vizinho.


Fim de jogo. Ele mexe no bigode e não desgruda o olho da televisão. Quer ver a taça, ver a festa na casa do adversário. Acende os rojões com o próprio cigarro e grita forte na varanda da casa. Muitos daqueles fogos ainda eram da semana anterior, quando os comprara acreditando na derrota do grande inimigo que não aconteceu. Estava aliviado e feliz. A quatro casas dali, o sujeito que festejara uma semana antes colocava o cobertor sobre a mulher. Caminhava pela casa procurando o relógio de pulso que não sabia onde havia colocado. Ao encontrá-lo, programou-o para despertar às sete da manhã e se deitou. Tal como vizinho, não dormiu naquela noite.


Tão pertos e tão distantes. Tão iguais e tão diferentes. Um precisa do outro. Um faz com que o outro permaneça grande. Os gigantes continuarão a roubar o sono de muita gente.


Vai Corinthians. Dá-lhe Palmeiras.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Agora é preto no branco, a América é nossa


Lágrimas escorriam. Os mais fortes, engoliam o choro. Afinal, é um povo que está acostumado a sofrer, essa cena, é mais normal do que se imagina. Só que ontem foi diferente, esse choro veio acompanhado de um sorriso que não cabia no rosto.

Para o povo sofrido de Osmar Santos, a alegria da conquista só não foi maior do que o orgulho por nunca ter abandonado, nem por um minuto, nem por puro ódio, raiva, desgosto. Coisas que são irrelevantes para essa gente humilde.

O que importa pra eles é carregar no peito o brasão estampado no manto sagrado. Manto esse que ontem, enxugou finalmente, lágrimas de alegria de uma disputa que parecia impossível de se ganhar, um dia.

A história é longa, não caberia em tão poucas linhas a que me sujeito escrever. Mas o final dela, não poderia ser melhor.

Sempre digo que para acontecer uma revolução é preciso que se ocorra um evento muito grande: como uma fênix, que se põe em chamas para depois retornar das cinzas, mais bela, forte e experiente. Com os gaviões também foi assim, com a queda, veio a ascensão.

A única coisa sensata que me resta fazer é me levantar e aplaudir, não apenas os bravos guerreiros que nos deram mais essa taça, mas sim a toda essa monocromática nação, que coloriu a América de preto e branco.